terça-feira, 27 de abril de 2010


Ele revirou mais alguns discos velhos, separou umas fotografias amareladas, se sentou próximo a janela com sua taça de vinho tinto e suspirou relaxado, como se aquilo fosse o êxtase para um final de dia cheio. Ela permaneceu imóvel, observando tudo do sofá próximo a porta, se sentia tão distante daquilo e ao mesmo tempo tão presente, sabia que tinha em suas mãos tudo para ser feliz mas se sentia plena de absolutamente nada. Tinha tudo e nada. Ele sorriu, cantarolou alguma coisa em inglês como se estivesse prestes a sair dançando alguma cena de Fred Astaire pela sala bagunçada. Ela observou, imóvel, indiferente. Sua vontade no fundo era tirá-lo para dançar sobre o tapete gasto, esquecer o mundo por uns instantes e se fazer de bêbada sem pudor algum. Mas sua imaginação continuou calada sobre cenas remotas e distantes. Permaneceram assim por mais alguns segundos, ele na janela, ela próxima a porta. Até que ele decidiu se juntar a ela, tirar-lhe o cabelo do rosto, acariciar-lhe as orelhas. E ela percebeu que tinha alguém, que estava feliz, mas sua imaginação gritou-lhe que estava sozinha. Tinha alguém mas estava sozinha. Ele observava ela, ela observava o nada. A música no fundo começava aos poucos a criar uma trilha sonora para uma cena obsoleta, incompreensível. Ele se aproximou, encostou sua testa na dela e fechou os olhos, certamente pensou em beijá-la, abraçá-la, senti-la. Ela fechou os olhos, quis beijá-lo e permaneceu imóvel. Pensou, neste instante, que tinha tudo e não tinha nada.


quarta-feira, 14 de abril de 2010

Então, baby, entre neste Corvette e abaixe o capô. Hoje o som vai ser Alan Jackson e Bob Seger por toda a Main Street. Do Missouri a California só o vento lambendo nossos cabelos e gritando que a estrada é nossa! O tempo é nosso! A vida é nossa!
Respire fundo, deixe a poeira do deserto nos mostrar a direção. De Chicago a Los Angeles só há duas paradas obrigatórias: um drive-thru qualquer e o Texas, por diversão. Bote esse chapéu e cante alto. Deixe John Steinbeck te ouvir por toda a Mother Road.
Sinta a energia deste asfalto, o cheiro do mundo e ouça os segundos chamando para a magia deste summer. É five o´clock, baby, e a Route 66 é toda nossa!
So, let´s go! Acelere esse Corvette, aumente o som, e sinta o vento. Mais nada!


terça-feira, 6 de abril de 2010


Ok. Não conseguir escrever talvez não seja falta de sentimentos e pensamentos, talvez seja o excesso deles. Dá até vontade de organizá-los em ícones, pô-los em ordem alfabética e catalogá-los em uma pasta de arquivo morto, que na verdade não é tão morto assim. Vamos recapitular - uma semana pensando pode ter rendido muito pano pra manga, ou pro vestido todo.
Percebi que gosto do mar, de uma maneira renovadora e ao mesmo tempo obsessiva. Preciso dele. Eu já sabia que gostava de acordar cedo, tomar um café da manhã regado a frutas e iogurte light, caminhar sozinha na praia ouvindo um som do tipo Ana Carolina e Kid Abelha - isso pode significar que combino com praia, ou que posso ter a esperança de uma velhice saudavel. - Também confirmei minha teoria de ter uma tremenda ansiedade social. Sério, fico com o estresse abalado com gente por perto, se é que isso é possível - talvez isso signifique que tive uma vida traumática com gente demais em volta o tempo todo, ou que eu realmente precise de mais tempo do que a maioria das pessoas. - Percebi que penso muito, demais, em tudo. Percebi que desabafo pouco, muito pouco, sobre tudo. Reparei que imagino coisas demais, coisas irreais, situações inatingíveis - quando era criança pensei que isso desapareceria com o tempo. - Descobri que o amanhã me assusta, e me assusta não viver o hoje. Difícil conciliar. Revejo situações, instantes, cenas que passaram e agora voltam com um pouco de trilha sonora e umas ações improvisadas - isso me lembra do medo que tenho de ter deixado pra trás instantes que foram tão bons e que talvez foram tão bons por terem sido deixados pra trás. Ah! Aqueles instantes! - Então decido tudo, organizo, planejo e me conforto, mais como uma espécie de alívio, do que um conforto propriamente dito. Até que volto, me vejo novamente diante das situações e de novo penso, penso, repenso, como se não houvesse tempo suficiente no mundo que revelasse o que é certo a fazer.
Vontade de ficar só na imaginação. Baixar o vidro do carro, pôr o som bem alto e apenas imaginar. Imaginar tudo o que queria que tivesse sido ou o que quero que venha a ser. Mas vou então deixar pra lá. Decidi em meio a tantos pensamentos que ver amigos, conversar e dar risada é a melhor maneira de não pensar no quem tem que pensar. Jogar o papo pro ar. Falar besteiras. Fazer perguntas banais e escutar respostas sem sentido. Isso é bom. Afinal o mar estará sempre lá para os pensadores.

Então, no que você está pensando?