segunda-feira, 24 de outubro de 2011




Há realmente pouquíssima coisa que consegue tocar meu coração de uma maneira triste... Uma delas, talvez a principal, é me deparar com animais abandonados, doentes, maltratados ou famintos - situação que é quase sempre agravada quando esses animais são levados para abrigos que não possuem dinheiro para higiene e tão pouco para os alimentos e cuidados veterinários... Neste último final de semana tive a chance de visitar um abrigo para animais aqui nos Estados Unidos e fiquei um pouco aliviada ao descobrir que em alguma parte do mundo os animais conseguem sobreviver de uma maneira um pouco mais nobre.  A higiene é impecável, veterinários andam de cela em cela checando cada animal diariamente. Há pelo menos cinco funcionários apenas para atender visitantes que estejam interessados em adotar, mais uns cinco funcionários para a administração e comunicação via website e newspaper, fora os que não tive o prazer de encontrar. Tudo é subsidiado pelo governo, desde o local onde se encontra o abrigo, até os medicamentos, as cirurgias e o salário dos funcionários.  Claro que não é o suficiente, mas as pessoas aqui possuem a tradição de ajudar, seja doando alimentos ou algum dinheiro. Dentro do abrigo cada cela possui no máximo três animais, sendo gato, cachorro ou coelho. Se for de grande porte ficará sozinho, tendo assim mais espaço e uma cama só para ele. Há pátios internos onde quem está interessado em adotar leva o animal (acompanhado de um funcionário) para brincar e ver se ele interage com os novos donos. Perguntei sobre adotar algum animal e levar para o Brasil, a surpresa foi que ganho de graça todas as vacinas e cuidados médicos, só me preocupo com a companhia aérea. Fácil não? Há lindos Akitas, Dálmatas, Poodles, Chow-chows, Labradores, Goldens Retrievers e Vira-latas apaixonantes... Há também gatos Persas, Siameses, Manxs  e todas as misturas possíveis.... Claro que o olhar de tristeza está presente nesses animais e acho que é assim em qualquer parte do mundo. Parece uma galeria onde eles ficam se exibindo o dia todo e torcendo para ganharem finalmente um lar. Há alguns que fazem de tudo para chamar a atenção como um ato de desespero ou como se estivessem no limite da solidão. A parte boa é que dezenas de famílias visitam o abrigo diariamente a procura de um novo membro, e, na maioria das vezes, voltam pra casa com ele nos braços. Sou claramente contra abrigos, mas PARABÉNS aos Estados Unidos pela higiene, empenho e organização.


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011



Cada pessoa chega com seu cheiro diferente, seu gosto, sua textura. Vem com seus amores maus resolvidos, suas esperanças gastas e seus sonhos luminosos. Cada um traz seu jeito, sua cor, seus segredos, traz suas crenças, seus discos, sua dança. Cada pessoa chega com seu brilho diferente e arromba seu instante de vida de uma maneira fascinante! Tenho paixão por pessoas! Se pudesse agarrava todas elas e trazia pro meu canto para passarmos horas compartilhando seus segredos, amores e sonhos luminosos!  
Em todos os lugares há alguém disposto a lhe abrir a vida, contar mistérios e dividir segundos! E em todos os lugares há alguém disposto a acrescentar algo em você!
As pessoas gostam de contar suas histórias, desabafar suas experiências mais dolorosas, mais ingênuas ou mais loucas e eu tenho paixão por ouvi-las! Tenho paixão por conhecê-las e tenho paixão por trazê-las pro meu mundo! Como queria que todos os meus amigos de todas as partes do universo se conhecessem e também fossem melhores amigos e que nos víssemos todos os dias e conhecêssemos todas as nossas histórias, nossas manias e segredos! Queria-os reunidos em todas as festas sob os mesmos discos e sob a mesma dança! Queria-os todos sob os mesmos refletores e sob as mesmas taças de champagne! 
Não sendo isso possível, fico com seus cheiros diferentes, seus gostos e texturas, fico com todos os seus amores maus resolvidos, suas esperanças gastas e seus sonhos luminosos. Fico com tudo. E fico pronta para o próximo alguém que queira arrombar minha vida de uma maneira fascinante! Como sou apaixonada por pessoas!


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"Não tenho medo de viajar para os lugares mais distantes do mundo, não se lá houver seres humanos que eu possa encontrar."

           
             Olho os turistas nos lugares, e as pessoas que me acompanham em viagens, elas são cheias de fatos, datas e reparam em arquiteturas que não vejo porque minha mente não funciona assim. A única coisa que quero saber sobre qualquer lugar ou qualquer pessoa que conheço é a sua história, essa é a única coisa na qual presto atenção – nunca nos detalhes estéticos. Lembro da minha mãe dizer certa vez no apartamento da praia que há um ano eu freqüentava constantemente: “Essas luzinhas são bonitinhas né?” e minha prima que conhecia pela primeira vez o lugar respondeu prontamente: “Eu acho linda, estava reparando antes”, e eu precisei parar, refletir e confessar: “Eu não tinha visto que tinha luzinhas aí!” Luzinhas que pendiam do teto em um cabo de mais de um metro, as quais eu desviava todos os dias para conseguir entrar na cozinha, luzinhas lindas e chamativas – eu sinceramente não tinha reparado antes. Mas os olhos treinados das outras pessoas detectam os detalhes gótico, romanescos ou bizantinos de um prédio, o desenho do chão de uma igreja, ou o apagado esboço do afresco inacabado escondido atrás dos altares.  Eu já entrei, em dúzias de igrejas, e confundo todas – Santo Isso e Santo Aquilo, e Santo Alguém dos Penitentes Descalços da Divina Misericórdia... Mas o fato de eu não conseguir lembrar nem dos nomes, nem dos detalhes de todos esses contrafortes e cornijas não quer dizer que não adore entrar nesses lugares. Não me lembro do nome da igreja que tinha azulejos tão parecidos com aqueles pintados pelos portugueses no século XVI, mas me lembro do cheiro e da sensação que tive ao entrar naquele lugar.
            Acredito nas experiências, nos sabores e na essência das coisas. Acho que cada pessoa precisa agarrar cada oportunidade de viver algo diferente com todas as forças que tiver e não soltá-la até sugá-la por completo. Chamo isso de felicidade. Não se trata de egoísmo, mas de libertação.
            Eu passo a existir mais depois de cada viagem que faço. Deixo todos os lugares perceptivelmente maior do que no dia que cheguei. E, assim como diz Elizabeth Gilbert, “vou embora com a esperança de que a expansão de uma pessoa – a ampliação de uma vida – seja realmente um ato de valor neste mundo. Mesmo que essa vida, só dessa vezinha, por acaso seja apenas minha e de mais ninguém.”