sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"Não tenho medo de viajar para os lugares mais distantes do mundo, não se lá houver seres humanos que eu possa encontrar."

           
             Olho os turistas nos lugares, e as pessoas que me acompanham em viagens, elas são cheias de fatos, datas e reparam em arquiteturas que não vejo porque minha mente não funciona assim. A única coisa que quero saber sobre qualquer lugar ou qualquer pessoa que conheço é a sua história, essa é a única coisa na qual presto atenção – nunca nos detalhes estéticos. Lembro da minha mãe dizer certa vez no apartamento da praia que há um ano eu freqüentava constantemente: “Essas luzinhas são bonitinhas né?” e minha prima que conhecia pela primeira vez o lugar respondeu prontamente: “Eu acho linda, estava reparando antes”, e eu precisei parar, refletir e confessar: “Eu não tinha visto que tinha luzinhas aí!” Luzinhas que pendiam do teto em um cabo de mais de um metro, as quais eu desviava todos os dias para conseguir entrar na cozinha, luzinhas lindas e chamativas – eu sinceramente não tinha reparado antes. Mas os olhos treinados das outras pessoas detectam os detalhes gótico, romanescos ou bizantinos de um prédio, o desenho do chão de uma igreja, ou o apagado esboço do afresco inacabado escondido atrás dos altares.  Eu já entrei, em dúzias de igrejas, e confundo todas – Santo Isso e Santo Aquilo, e Santo Alguém dos Penitentes Descalços da Divina Misericórdia... Mas o fato de eu não conseguir lembrar nem dos nomes, nem dos detalhes de todos esses contrafortes e cornijas não quer dizer que não adore entrar nesses lugares. Não me lembro do nome da igreja que tinha azulejos tão parecidos com aqueles pintados pelos portugueses no século XVI, mas me lembro do cheiro e da sensação que tive ao entrar naquele lugar.
            Acredito nas experiências, nos sabores e na essência das coisas. Acho que cada pessoa precisa agarrar cada oportunidade de viver algo diferente com todas as forças que tiver e não soltá-la até sugá-la por completo. Chamo isso de felicidade. Não se trata de egoísmo, mas de libertação.
            Eu passo a existir mais depois de cada viagem que faço. Deixo todos os lugares perceptivelmente maior do que no dia que cheguei. E, assim como diz Elizabeth Gilbert, “vou embora com a esperança de que a expansão de uma pessoa – a ampliação de uma vida – seja realmente um ato de valor neste mundo. Mesmo que essa vida, só dessa vezinha, por acaso seja apenas minha e de mais ninguém.”


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