segunda-feira, 21 de junho de 2010

"Que seja infinito enquanto dure"


Semana passada me chegou pelo correio meu sétimo celular. Mais um que comprei às pressas pela internet para suprir a vida azarada dos outros aparelhos que tive. Foram romances que duraram pouco tempo, sempre intensos, mas nada duradouros. Quando fiz 15 anos ganhei um celular azul celeste, lindo, amor a primeira vista. Nos conhecemos em um comercial de televisão, e quando devidamente apresentados acabou sendo um namoro apaixonado, nos entendíamos em SMSs e ligações locais maravilhosamente bem. Infelizmente, 6 meses depois acabou da forma mais drástica possível: ele fugiu com um menino bem mais jovem, moreno e bom corredor.
Como dizem que para esquecer um amor o bom é encontrar outro, ganhei meu segundo celular. Cor cinza, aparência mais séria. Pensei que aí podia ser tudo diferente. Também nos entendíamos muito bem em SMSs e ligações locais, precisa mais? Mas um fato triste ocorreu 3 meses depois: ele morreu de causas naturais. Disse o médico que foi oxidação, nada se pôde fazer para salvá-lo.
Triste e desolada, resolvi revolucionar. Desisti de celulares baratos e grandes, já chegava de sofrer por quem não merecia. Comprei um aparelho de arrasar, azul escuro, pequeno, com flip - onde chegava chamava a atenção. Esse sim foi um romance duradouro. Além de nos darmos muito bem em SMSs e ligações, ele ainda me permitia ver fotos, ouvir músicas e armazenar dados. Moço querido, nunca deu problemas. O que aconteceu aí, foi que depois de 3 anos a relação esfriou. Ele envelheceu, adquiriu alguns arranhões e sofreu desgastes inevitáveis. Era inútil tentar continuar. Nos despedimos e seguimos em frente.
No Natal de 2008 foi que encontrei meu novo amor. Rosa, delicado, com slide. Me permitia mandar SMSs, fazer ligações, tirar fotografias, armazenar dados, ouvir MP3 e tinha espaço para cartão de memória de qualquer gigabyte - esse foi o problema. Fiquei novamente viúva, e desta vez de forma brutal. O cartão de memória de 2GB entrou de maneira errada, penetrou o celular e o tirou a vida sem deixar vestígios ou esperanças. Nada se podia fazer. Esse foi o romance mais curto, foram dois dias de um lindo e inesquecível amor de verão.
Duas semanas depois senti que precisava fazer alguma coisa. Com a auto-estima agredida, fui até a loja e me comprei um aparelho mais caro, mais robusto. Branco, com slide, tinha ainda câmera fotográfica de 5.0 megapixels, tocava MP3 como nenhum outro, armazenava dados, mandava SMS, MMS, e-mail e era definitivamente de fácil entendimento. O cartão de memória de 8GB não o agrediu e tiveram um bom relacionamento. Eu e ele ficamos juntos por 8 meses, então viajamos para a Europa, onde tivemos que dar um tempo porque ele era um tipo bloqueado. Morávamos juntos, mas não nos comunicávamos. Neste período me relacionei com um aparelho da Vodafone portuguesa que me custou 9 euros, ele só mandava SMSs e fazia ligações, mas me cobrava uma mensalidade de 10 euros mensais e nada gastava para fazer ligações locais e mandar SMSs. Para o Brasil gastava reles 21 cêntimos por minuto. Uma maravilha. Impossível não nos darmos bem. Então, quando retornei ao Brasil, nosso relacionamento português terminou e vi que era melhor voltar para o meu namoro antigo. Eu e o celular branco com slide e câmera 5.0 tentamos reatar, no início funcionou bem, mas 3 meses depois ele resolveu me abandonar. Sumiu, sem deixar recado. Me disseram ter visto ele em um ônibus urbano, mas nunca mais o encontrei.
Este foi meu penúltimo romance. Agora, semana passada, me chegou pelo correio o novo aparelho que comprei pela internet. Não gastei muito, porque vi que não dou sorte com estes relacionamentos. Mesmo assim, investi no visual: ele é pequeno, branco, touch screen, e além de mandar SMS, MMS, e-mail, fazer ligações, armazenar dados e tocar MP3, tem câmera fotográfica de 8.0 megapixels, conecta MSN, toca MP4 e pega 6 canais de televisão. Uma maravilha não é? Estamos nos dando muito bem, inclusive se decidirmos viajar para a Europa ele não é bloqueado como o outro, é mais aberto e me permite ter dois chips diferentes. Espero que este seja um relacionamento perfeito e não pretendo sair dele tão cedo. Vou pôr na cabeça que internet Wi-Fi não faz falta e pensar como Vinícius de Moraes: “...que seja infinito enquanto dure!”
Fernanda Rüntzel da Costa
(Acadêmica do VII Nível de Jornalismo)


Texto publicado na Com Arte - revista de jornalismo online
www.revistacomarte.blogspot.com 


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